segunda-feira, 7 de abril de 2008

A AERÓBICA DO CÉREBRO




Nada de ser mestre em palavras cruzadas, fazer cálculos difíceis, ler pilhas de informações ou decorar um poema por dia. Segundo uma nova teoria americana, os melhores exercícios para os neurônios são as triviais atividades do cotidiano

Por Liliana Negrello

A caminho do chuveiro, feche os olhos, localize a torneira e regule a temperatura da água para o banho apenas pelo tato. Depois, sem ver nada, diferencie o xampu do condicionador pelo cheiro. Ainda no escuro, enxugue-se e vista a roupa utilizando somente o seu instinto. Terminou? Então saiba que você acabou de fazer um exercício de neuróbica – técnica que emprega a associação e a variação dos sentidos em tarefas simples para manter a mente forte e flexível. As atividades dessa ginástica inusitada envolvem sempre mais de uma sensação num mesmo contexto. E é essa interação, além, é claro, da quebra de rotinas, que força o cérebro a trabalhar mais e melhor. Segundo Lawrence Katz, neurobiólogo americano que desenvolveu a novidade, a vida cotidiana é a academia ideal para a aeróbica da massa cinzenta.

As emoções são capazes de aguçar os neurônios
Cada célula cerebral pode trocar de 1 mil a 10 mil impulsos nervosos com outro neurônio. Tudo vai depender, porém, de como se dá a estimulação. E o uso de vários sentidos ao mesmo tempo é uma boa estratégia para aumentar a quantidade de tais comunicações.
Segundo a neuróbica, além do olfato, da visão, do tato, da audição e do paladar, a emoção também pode ajudar a intensificar o contato entre as células nervosas. Para entender bem como funciona essa engrenagem, é só imaginar uma música que foi ouvida numa situação especial. Sempre que for tocada, ela vai trazer a lembrança do momento vivido. Isso ocorre por causa da interação entre a sensação auditiva e a emocional.

Quebra de rotina
"Um fato será lembrado com mais facilidade se houver várias informações relacionadas a ele", explica Gilberto Xavier, neurofisiologista da Universidade de São Paulo. Fazer pequenas mudanças na rotina é outra maneira de deixar o cérebro em forma. Isso porque os comportamentos do dia-a-dia são quase sempre automáticos e, portanto, feitos com um gasto mínimo de energia cerebral.
Escovar os dentes com a mão contrária, por exemplo, é um ótimo começo. A mente é preparada para trabalhar com o inesperado e, ao reagir a uma novidade, a atividade dos neurônios aumenta em várias áreas cerebrais.

O cérebro adulto ainda pode mudar. E para melhor
Durante muito tempo a idade avançada foi sinônimo de perda da capacidade mental. Mas essa crença já não é unanimidade. O neurologista da Universidade da Califórnia Michael Merzenich mostrou, em pesquisa recente, que o cérebro mantém seu poder de crescer, adaptar-se e mudar padrões de conexões mesmo em adultos. Com o tempo pode-se perder neurônios, mas, se os que restam forem bem treinados e conectados, mantém-se o cérebro em dia.
A neuróbica dá outra pista para esse treinamento. Prepare uma refeição bem cheirosa, bonita e saborosa. Teste a receita atento às sensações que ela provoca. Converse com quem estiver à mesa com você. Pronto, mais um exercício cerebral sem suor nem muito esforço.

Leia: Mantenha Seu Cérebro Vivo, Lawrence C. Katz – Editora Sextante

Cumprimente a pessoa que você acaba de conhecer com um aperto de mão. Olhe bem o seu rosto, sinta o seu cheiro e ouça com atenção a voz dela. Se agir assim, é provável que o encontro nunca seja esquecido.

Reconhecer um perfume apenas pelo aroma que ele exala é uma atividade que ajuda bastante a aumentar a capacidade mental.